55 Milhas pedestres separam o Parque das Nações em Lisboa da Estação da CP de Santarém. 20 de Março de 2016 foi dia de fazer esse percurso a correr, sempre pelo Caminho do Tejo.
Desde “pequenino” que leio os relatos da Carla André e do Tigre, e que vejo as convocatórias do Paulo Pires, sempre “na onda” do: “Fomos ontem fazer Lisboa – Torres a correr” ou “Vamos amanhã de Almada até Setúbal pela Serra à meia noite”, e daí por diante. Nesse passado distante, tudo isso me parecia enorme e hercúleo… Correr 10 quilómetros para mim era o aceitável e o confortável.
O tempo passa, a moda aguenta-se e transforma-se em modo, e passa-se de “pequenino” a “pequeno”. Então, para celebrar esse feito, decido convocar meia dúzia de outros “pré-pequenos” para virem comigo de Lisboa a Santarém, a correr desta vez.
Evento criado, roadbook preparado (com horários de transportes, calculador de cadência, pontos de fuga), e no dia do início da Primavera do ano de 2016 do calendário gregoriano às 07h02 arranque do Parque das Nações, por baixo da “Pala” do Pavilhão de Portugal. O modo: autonomia total (survivor como dizia o outro). Mochila com água, comida e muda de roupa para o final, creme Akilene Nok Sports e meias Mund nos pés e os valorosos sapatos de combate Skechers Go Run Ultra 2. Não há dúvida que são “pau para toda a obra” a raça das sapatilhas, só falta mesmo ir nadar com elas e comportarem-se bem aí.
Quanto ao percurso, quando era “pequenino” já tinha ido de Lisboa a Alverca a correr, e sabia que o percurso era maioritariamente plano, havendo previsão de alguma lama na zona inicial perto do Rio Trancão, sendo o resto até Santarém um misto de terra batida e estrada.
No início, alguns “espalhos”, talvez devido ao entusiasmo inicial (é como aqueles parafusos no chão nas Escadinhas & Subidinhas), ou devido à hora vespertina aliada à neblina que ainda se fazia sentir na zona. Pernas e equilíbrio estabilizados e lá segue o grupo de sete a bom ritmo pelo Caminho do Tejo que seguindo as marcações existentes, nem precisa de GPS para se guiar na viagem.
Passagem pelo quintal dos Runners da Póvoa de Santa iria e em Alverca encontro com um deles. Seguimos caminho até Vila Franca de Xira onde ficaram dois elementos, um por outros afazeres e o outro porque o peso de Sicó ainda nas pernas assim o obrigou.
Fomos andando, ou melhor, correndo, e abrandando somente para comer os mantimentos próprios que trazíamos, sandes, barras, batatas fritas. Água, conseguimos encontrar fontes públicas para obtê-la gratuitamente. Chegámos à Azambuja, o último reduto da civilização (onde estava tudo fechado). A partir daí, para sair do caminho para apanhar o combóio implicaria sempre mais dois quilómetros de distância “para dentro”, pelo menos.
Seguimos em frente. Ao longe as nuvens ameaçavam tempestade. Desde manhã que vimos num chove/não chove constante. Vinha aguaceiro, veste casaco, vinha sol, tira casaco, metade do tempo estive de óculos escuros, a outra metade de impermeável vestido.
Algures na praia da Valada junta-se a nós um novo companheiro dia viagem, um cãozinho, que foi conosco até Santarém, e curiosamente sabia o caminho de cor e salteado, pois ia à nossa frente, virando nos cruzamentos certos sempre até ao nosso destino.
Em Porto de Muje, um dos cinco resistentes já estava bastante maltratado (foi lá, naquela Rua)… Então, a Vanda ligou ao Mário, que veio buscá-lo (ao maltratado) e levá-lo ao final do trajecto, em Santarém, para apanhar o combóio de regresso a casa.
Já éramos só quatro. A noite começava a cair, o frio e o cansaço a chegarem. Frontais e luzes traseiras ligadas, e continuámos a seguir caminho. A 10 quilómetros do destino, avistamos Santarém ao longe mas, segundo as locals, ainda estava longe, mesmo muito longe, 10 quilómetros, ou mais de distância até lá.
Chegámos a Santarém, o nosso objectivo final, quatro dos sete, a correr. Quase 55 milhas depois (88.500 metros) e após 14h01 de gestão de conflitos, inteiros, aparentemente pelo menos, por fora.
À nossa espera, o Mário, o Bernardo e o Gonçalo (que tinha saído há horas de perto do grupo). Abraços, beijinhos e entrega do diploma de finisher desta aventura, Tagus 50 Mile edição pedestre sul-norte. Subida de escalão de “pequeninos” para “pequenos”. Perto de nós, ainda o cãozinho, pequeno. Tentámos nesse dia ligar para os números presentes na chapa, tentei no dia seguinte mas até agora, nada mais soubemos da sua origem…
No final, o regresso tranquilo a Lisboa no combóio Intercidades, mudando de roupa no conforto da carruagem e pensando já no próximo desafio.
Grandes! muitos parabéns pela a aventura e resistência!
Parabens.Um dia quando achar que posso passar de pequenino a pequeno, gostava de ir convosco. Vou fazer por isso.
Abracos
Joao Ferreira
(amigo do “maltratado” Pedro)