Já paraste e pensaste, em ti?

Já paraste e pensaste, em ti?

Há meses atrás, em tertúlia virtual com um amigo (Rui Vieira), saiu mais ou menos esta dissertação da parte dele, que me deixou a pensar, a mim…

Há 30 anos atrás, o atletismo em Portugal deu um pulo. Começou a haver dinheiro, provas em barda, patrocínios e novas equipas surgiram como cogumelos. Até essa altura o ambiente nos grupos existentes era fantástico, muito saudável, relações honestas entre todos. Havia “rivalidade clubística”, pois claro mas somente na pista, nos corta-matos e na estrada.

Com o dinheiro entraram a rivalidade, o interesse, o mal-dizer, a competitividade cega. Passados dois anos dessa “novidade”, deixei a modalidade, que manteve um contexto, na minha opinião, de “negócio”, com a carga negativa que isso traz.

Olhando para a modalidade agora (que a pratico de novo), observo com uma velocidade vertiginosa os grupos que eram informais (alguns nascidos de geração espontânea) mas que se produtizam cada vez mais, e com mais intensidade, sendo os seus membros um número, muitas vezes sem terem propriamente noção disso… De dia para dia vejo o avanço desta forma de estar, e sinto a perda da espontaneidade, humildade, pureza e, o que parece natural começa a cheirar a artificial.

Penso então com preocupação, para onde estão esses grupos a caminhar, e até quando isto vai durar? Preocupa-me especialmente que, quando a saturação aparecer, as pessoas não encontrem o seu caminho individual, e percam a vontade de praticar desporto, especialmente este, a corrida, que é simples, honesto e muito saudável, se feito com moderação.

Isto veio “do ar”, com um “o que achas?” no final.

Bem, Rui, poderia tecer algumas, variadas, considerações acerca do tópico, baseadas somente na experiência empírica que tenho vindo a adquirir ao longo do tempo, isto porque não tenho em minha posse números que me permitam aferir com certeza percentagens ou valores absolutos nada que seja relacionado com o mundo da corrida em Portugal, exceptuando um inquérito que lancei em Julho de 2014 em alguns grupos no Facebook, e cujos resultados (percentuais) podem ser analisados aqui e que mesmo não tinha absolutamente nada a haver com este assunto.

No entanto, esta tua linha de pensamento (que já me tinha cruzado a mente), deixou-me a pensar de uma forma mais objectiva durante uns tempos, afinal, este desafio foi-me lançado à meses.

Nos grupos de “corredores” que vou acompanhando, ora pelo Facebook, ora ao vivo, vou vendo pessoas a chegar e pessoas a ir embora, é natural acontecer, e nada é eterno.

Umas pessoas desaparecem completamente. Outras, aparecem esporadicamente numa prova ou noutra, se tanto. Algumas ainda criam o seu próprio grupo (muitas vezes uma variação do primeiro, acabando por se tornar igual) pelos motivos que acham válidos para o fazerem (geralmente descontentamento com a direcção do mesmo, com a publicidade ou, pura e simplesmente vontade de “brilhar”).

Agora a questão de um milhão de dólares que coloco a quem me lê é:

Tu, que “pertences a um grupo”, que vestes a sua camisola e a transpiras sempre que podes, tu que defendes as “cores” do teu grupo com unhas e dentes, já paraste para pensar qual o teu papel dentro do mesmo? E já imaginaste o que te aconteceria, se o teu grupo acabasse? Continuavas a correr? Arrumavas as sapatilhas? Procuravas outro grupo? Fundavas o teu próprio?

Para rematar digo: Nunca te esqueças da tua individualidade, por mais que gostes do teu grupo, põe em causa e questiona. Lembra-te, para correr, só precisas de uma coisa, de ti, tudo o resto é acessório.

One comment

  1. Nunca corri em “grupos”, mas sim nalgumas equipas. Equipas “a sério” com a secção de Atletismo bem viva e com objectivos bem orientados, onde se incluía e fomentava a prática do desporto para todos, independentemente das mais ou menos aptidões de cada um. Comecei no Grupo Desportivo de Vialonga, por volta de 1975 ou 76, com 6 ou 7 anos de idade apenas. Muito boas recordações tenho dessa época. Muito devo aos treinadores que tive nesses anos. À forma como me incentivavam, me motivavam e valorizavam. Talvez nunca a Corrida seria para mim o que é hoje, se não fossem essas pessoas e essas experiências e vivências nessa idade.

    Depois, já em idade adulta corri pelo Linda-a-Pastora, também pelo AFIS-Ovar e ainda pelo Clube Sargento da Armada. As saídas foram sempre por motivos vários mas nunca deixei de ser eu, de pensar por mim, de saber claramente o que o clube era para mim e o que eu era para o clube. Talvez por saber isso demasiado bem, é que hoje corro no clube sempre com mais atletas em cada prova: Individual :)

    Salvo quando por conveniência mútua posso correr uma prova ou outra em representação de um qualquer clube. Sem compromisso e sem camisola :)

    Grupos? Também já os tive, mini-grupos de meia dúzia de amigos, que criavam um nome de equipa e se inscreviam numa prova por essa equipa acabada de inventar, como por exemplo a equipa “Feita à pressa” ou ainda “PCGC-Procuro companheira/o que goste correr”, baseada num tópico de um antigo e polémico fórum de Atletismo. Uma brincadeira de curta duração, não um grupo dos que tu referes e que proliferam hoje como cogumelos numa floresta húmida. Posso ou poderei até correr com alguns. Amigos. Amigos de amigos, mas sem qualquer vínculo especial. Até “pertenço” a alguns grupos no facebook mas não me identifico especialmente com nenhum. Corro com quem calha. Amigos. Amigos de amigos. Objectivos de treino, ritmos, horários e locais que me/lhes seja conveniente e coincidente. E nem sempre é fácil conciliar. E nas provas, por todas as razões e mais algumas, sempre…Individualíssima! Com os prós e com os contra evidentemente.

    Não deixo no entanto de salientar, que “pertencermos” a um grupo pode ser extremamente motivador e positivo. Há grupos e pessoas no grupo que dão muito de si. Promovem de facto a Corrida! Incentivam! Divulgam! Puxam! E levam muita gente a começar a correr, e muita gente a continuar a correr! Tiro-lhes o chapéu! Eu é que não tenho feitio (ou tempo, ou circunstâncias) que me permitam ou façam querer “pertencer” de facto a um grupo.

    Importa sim, corrermos! Por nós! Sermos nós, sempre! Mesmo inseridos num grupo com as suas vantagens que obviamente as haverá.

    Beijinho João e até uma Corrida qualquer
    Ana Pereira

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