Viagem ao Oriente esquecido

Viagem ao Oriente esquecido

A convite do Correr na Cidade, tive o privilégio de guiar um grupo de 28 aventureiros, numa viagem ao Oriente esquecido, em Lisboa.

Correr na Cidade é um projecto dois em um. Para além de ser um blogue (de referência para mim), é também uma Running Crew (anglicismos à parte, são um conjunto de amigos que gosta de correr e que, correm juntos) que também marca uns treinos (agora abertos ao público) e que convida pontualmente amigas e amigos como guias dos mesmos. A mim, coube-me este desafio, que aceitei desde o primeiro minuto, e que preparei da melhor forma que soube, com toda a dedicação, focagem e respeito, quer pelo Correr na Cidade, quer pelos participantes que haviam de aparecer, espero que tenham gostado, e que o percurso tenha estado à altura do desafio.

O treino

Combinado e preparado há semanas, o percurso levou os participantes num treino de City Trail (anglicismos à parte, é basicamente o mesmo que corrida urbana) por um percurso de cerca de 14km na zona Oriental da cidade de Lisboa. Quem pensa que, na zona Oriental da cidade temos só o “turístico” Parque das Nações e o “festivaleiro” Parque da Belavista, desengane-se.

À volta desses dois bastiões da modernização Lisboeta, existe toda uma realidade, por vezes triste e quase sempre escondida, de fábricas e edifícios abandonados e devolutos, em ruínas por vezes, rastos de lixo e miséria, adivinha-se que com alguma toxicodependência à mistura, despejos ilegais de entulho em terrenos baldios, hortas urbanas claramente fora de “planos de ordenação territorial” e gente, simples, verdadeira e genuina por vezes também, esquecida, mas sempre lá.

Com encontro marcado para as 19h15 e arranque apontado para as 19h30, na Estação de Santa Apolónia, depois do briefing inicial, onde foram explicadas as “particularidades e exigências” do percurso, arrancámos logo a subir, é claro. O percurso não tinha muitas mas, foi bastante técnico em algumas partes.

O percurso

Subindo a Santa Engrácia, atravessámos até ao Beato. Passámos por carreiros de terra batida, ora rodeados de funcho, ora rodeados de entulho. Passámos por azinhagas e por estradas sem saída (para carros, porque a pé…), por dentro de villas que o tempo levou, e colados a fábricas e armazéns abandonados e saqueados, alguns só fachada já.

Fomos ao oásis que é a “Mata de Madredeus”, subindo desde a “esquecida” Estrada de Chelas, por mais uma rua sem saída. Passámos por cima e por baixo de linhas de comboio, de duas linhas de comboio diferentes, para ser mais preciso, e estivemos à espera que um passasse na estação de Chelas, numa passagem de nível sem guarda que, recordo-me, e recordou a alguns dos presentes, os tempos de infância e juventude, onde a mesma era um ponto negro no trânsito naquela zona da cidade.

Vimos um barco perto da Picheleira, quem sabe à espera de um dilúvio, e fomos aplaudidos e aclamados por populares na rua e nas janelas, visivelmente espantados com a passagem de tamanha mancha colorida numa zona tão “cinzenta”, e tão esquecida, pelas chamadas “provas de atletismo populares”.

Corremos por canaviais, e fizémos um ou outro arranhão, nada de mais, em paisagens que lembravam a infância de quem teve a sorte de crescer em zonas “esquecidas”, e que agora, ainda mais o são. Passámos ao lado de hortas, com cercas feitas de paletes de madeira reutilizadas, depois de passar por viadutos e prédios, do tempo do “Tomás Taveira”, também ele já, em parte, esquecido.

Subimos à Belavista, e ficámos pela parte Sul do Parque, o tempo já apertava, e o Sol começava a desaparecer. O percurso estava a chegar ao fim, sem incidentes para além do previsto (excepto um assalto a um carro de um dos participantes, em Santa Apolónia, demos por isso na chegada). O grupo estava no limite, de pernas, tempo e espanto, no entanto animado com tanta memória “esquecida” visitada, nesta nossa velha Lisboa Oriental.

O percurso está disponível para download aqui.

No final

Voltámos então, ao ponto de partida, como tinhamos partido, juntos e coesos. A parte final do percurso, sempre a descer, ajudou a espairecer e a voltar, gradualmente, a território mais familiar. Despedidas feitas, arranquei rua acima com o Filipe Freitas, que ia a pé para casa também, a metermos a conversa em dia e a chegar a tempo de ver a segunda parte do jogo de futebol que passava na televisão, porque a vida não é só corrida ;)

As fotografias

Desta vez, as paragens para fotografias não foram muitas e, algumas das fotos apresentadas servem somente para memória futura dos participantes, para não serem esquecidos os sítios por onde passámos, tendo sido captadas horas antes, no reconhecimento final do percurso.

A Liliana Moreira escreveu um excelente relato acerca desta “Viagem ao Oriente Esquecido” que podem ler no blogue do Correr na Cidade.

2 comments

  1. Tiago Ricardo

    Maravilha!!! :)

  2. Nestes percursos bem que podias por o track para o pessoal que não conseguiu ir…parabens pelo percurso

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