24h_portugal_2015

24h de Portugal, modo solitário

Nesta segunda edição das 24h de Portugal, em Vale de Cambra, a participação foi em modo solitário, como aliás anunciado pelo speaker de serviço, expressão que estranhei logo à partida mas…

Se em 2014 a participação foi em modo individual, em conjunto com as Ronhonhós, e vestindo várias camisolas durante a prova, desta vez, não houve nada disso, foi mesmo solitária. É estranho, foi estranho, pois a prova tinha o triplo dos participantes, quer em modo individual, quer nas provas mais pequenas de 3 horas, ou por equipas.

A chegada a Vale de Cambra decorreu sem incidentes. Chegámos cedo e fomos imediatamente para o Parque da Cidade. Desta vez não havia tenda gigante para os participantes descansarem e, para poupar tempo em idas ao carro em caso de necessidade, optei por levar uma tenda para montar no espaço destinado ao acampamento.

No entanto, por distração (e por não acampar assim tão regularmente), levei uma tenda sim, de praia… Forro simples, aberta dos lados, vá lá que tinha porta mas, dormir lá dentro, nem pensar. Serviu de guarda-sacos durante aquelas 24 horas, embora não tivesse intenção de dormir.

Depois de encontrar amigas e amigos, repetentes e estreantes, o arranque da prova, à hora prevista, meio-dia. O calor, abrasador. A meio da primeira volta, já a fisiologia chamava por mim e, ao fim dos primeiros dois mil e tal metros, primeira paragem técnica no WC. Lá, outros participantes, aflitos, e aflitos também por não haver papel higiénico. Quem vai ao mar, avia-se em terra, e eu levava lenços de papel comigo, quem não levava…

Voltei ao circuito, fui gerindo as voltas como conseguia, reduzi as paragens ao mínimo e fui correndo. À hora de jantar, visita da Elsa e da Sara. Bolonhesa e água, e o calor passa a frio. Fui vestir algo mais quente, dei duas voltas, parei para beber água e gelei.

Vesti o corta vento e continuava gelado, até aos ossos. Não estava tanto frio assim, na realidade era uma conjugação de cansaço, falta de motivação e sobretudo solidão, vejo-o agora. Decidi que não ia correr à noite, ia caminhar enquanto pudesse e, se não pudesse, ou não me apetecesse, parava, simples.

Dei duas voltas a andar, e a digestão obrigou-me a descansar meia hora sentado. A Elsa e a Sara voltaram a trazer o pequeno-almoço (um arroz de miúdos de galinha espetacular), comi um bocado enquanto elas me faziam companhia antes de irem dormir. Dei mais duas voltas, a andar e vestido como um esquimó, e fui descansar de novo, pelo menos tentar. Uma cadeira para sentar, outra cadeira para esticar as pernas e “desisti”. Fui à tenda buscar o saco de dormir e a almofada, tirei os sapatos e o boné e deitei-me no chão da zona da restauração, onde dormi um sono inquieto de quase quatro horas.

Acordei já com o sol a acordar, bebi um café, fui dar outra volta e, em cada volta que dava tirava uma camada de roupa. Antes de passar a ter somente roupa de “corrida” vestida, tomei o pequeno-almoço (o tal arroz de miúdos) e voltei então à prova. Estava fresco, quase que nem uma alface do dia anterior, e pronto a correr de novo. E corri. Fui cumprimentando de novo quem estava em prova. Andei com uns, corri com outros, mas sabia já desde Sábado que a prestação ia ficar bem aquém do ano passado, não havia tempo para recuperar e, no fundo no fundo, nem vontade.

Chegado o meio-dia, hora de passar a meta. Passei-a com a Sara comigo, este ano a pé, pela mão, no meio de aplausos, fotografias e música forró a tocar. Não sei se era forró, mas de tanto a ter ouvido durante aquelas 24 horas, a melodia ficou gravada de forma semi-permanente nos meus tímpanos.

Depois de procurar o sítio onde era entregue a medalha (na lateral da tenda de controle de passagem, praticamente atrás da linha de chegada, tive de andar às voltas para perceber), juntei-me de novo à Elsa com a Sara e fomos desmontar o acampamento. Bebi umas garrafas de água enquanto o fazia, e ia trocando umas impressões com o Joel José Ginga acerca da prova.

Acampamento desmontado, tivemos de passar de “armas e bagagens” em frente ao palco da entrega dos prémios, pois era o único sítio de passagem para o estacionamento sem ir dar a volta inteira ao Parque. Daí, em direcção à Pensão Bastos, quartel-general das Ronhonhós, onde tomei um banho rápido antes de arrancarmos para almoçar uma espécie de cozido à portuguesa em Vale de Cambra e depois, ir para casa.

Se no ano passado fiquei certo que a iria repetir esta prova de forma cativa, já a impressão com que fiquei este ano, não sei, pareceu-me que estive em outra prova. O que é que sei? Sei que sem dúvida que não existe nada como a primeira vez…

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