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39ª Meia Maratona de São João das Lampas

Sendo a segunda mais antiga Meia Maratona em Portugal, torna-se quase obrigatória pelo menos uma participação, esta foi a minha terceira, com o dorsal número um e foi, talvez, a minha participação mais dicotómica mas, participar na Meia Maratona das Lampas, para mim, traz sempre história a contar.

Esta edição foi aquela em que me preocupei mais com o tempo que ia fazer e a que correu mais fluida, foi aquela em que, desde o arranque, não me preocupei com mais ninguém e acabei acompanhado, foi um fartar dicotomia.

Chegado já um pouco em cima da hora com as Ronhonhós (que participaram na mini-maratona). Depois de cravar o Joel Silva para nos levantar os dorsais, o encontro habitual com os amigos e amigas, fotografias, conversas, medos e expectativas. Eu, estava apavorado. Estava doente, e indisposto para além de doente (sim, dá para juntar as duas coisas), e levava comigo e em mim um objectivo diferente do habitual.

Ia para “duas horas”. Não vou entrar em falsas modéstias que não ligo ao tempos, que isso não é verdade. No ano passado fiz 2h01, e este ano queria fazer no máximo dos máximos 1h59. Sei que estava preparado, tenho treinado muitas escadinhas & subidinhas mas, mesmo assim ia cheio de medo.

Ia para “ir sozinho”. Não levava nada combinado com ninguém, levava somente combinado comigo próprio que não iria puxar por ninguém, ia esticar a corda ao limite, e se alguém quisesse vir junto, força, sem falsas modéstias, não ia com energia para mais nada. Não sou o corredor mais rápido que conheço, nem nada que se pareça mas, desta vez tinha de ser assim, poucas conversas e força nas pernas.

Partida dada, arranquei com o Pedro Santos na “cola” que rapidamente ficou para trás. Fui sempre no limite, foram 13km no limite, os primeiro 13km, praticamente sozinho, sempre a ultrapassar pessoas, e a ser ultrapassado. Ultrapassava nas subidas, era ultrapassado nas descidas, claramente tenho de treinar essa parte, a das descidas. Foram 13km sem falar com ninguém, ou quase, visto que no quilómetro 12, depois de uma paragem técnica super breve, sou apanhado pelo Paulo Silva e trocamos umas breves palavras.

Nessa altura, ia a considerar parar, e ficar já por ali. Passar de novo em São João das Lampas, junto com a indisposição, estava a toldar-me o raciocínio. Na lateral da feira, amigas e amigos, entre tartarugas solidárias, Ronhonhós e outros “independentes”, a gritar o meu nome em claque, deram-me força para continuar, e acelerar mais um pouco. O Paulo continuava atrás de mim mas, eu continuava “na minha”, ia sozinho e tinha de me focar completamente na estrada, sabia ainda o que aí vinha e não ia ser fácil.

À saída de São João das Lampas, nova paragem, esta mais prolongada, cerca de dois minutos e, olhando para o relógio, vi que de qualquer forma ia bem folgado para as duas horas que tinha como objectivo, mas não poderia baixar as armas. Fiz-me de novo à estrada, agora mais leve, e preparado para enfrentar as duas únicas subidas que faltavam. O que vinha depois delas, eram só declives.

Encontrei o Ricardo Jesus, adiantei-me a ele, provoquei-o, ele adiantou-se a mim e provocou-me e, a seguir à curva encontro de novo o Paulo Silva e o Pedro Santos. Abrandei, “meti-me com eles” e arranquei de novo por ali acima. O Paulo aproveitou a deixa e o meu cone de vento para acelerar comigo estrada fora.

Fomos juntos. Falámos pouco, breves nas palavras, porque nem sempre é necessária muita comunicação verbal neste tipo de situações, sempre que havia uma tentativa de comunicação verbal era breve porque ia(mos) em modo “red line”, no limite, “no limits”.

Fraquejei, no entanto. Este sábado, estranhamente, o meu amigo Paulo não estava mais forte do que eu e, estando eu bastante abaixo do meu tempo máximo previsto, afrouxei um pouco o acelerador e decidi partilhar alguma da minha energia com ele. Afinal de contas, temos de ser uns para os outros, todos temos dias bons e dias maus, e o Paulo já fez o mesmo por mim noutras ocasiões, mesmo que este não fosse um dos meus dias bons. O meu objectivo principal ia ser cumprido, e assim procurei rapidamente um objectivo secundário (porque a vida não é só corrida).

Fomos então alegres e compassados percorrendo os últimos quilómetros juntos, ora ia eu à frente, ora iamos lado a lado, ora passava ele por mim, ou puxava eu por ele, gerámos uma síncope perfeita até passarmos a meta.

Do pouco que falámos nessa altura, a maioria ficou por lá, ressalve-se somente a questão de “passar a meta sem garrafas de água na mão” para ficar bem na fotografia.

Chegámos então ao fim, em sprint, lado a lado, a puxar um pelo outro. Fizemos o mesmo tempo, com diferença líquida de um segundo, mais coisa, menos coisa, no meu caso onze minutos mais rápido do que no ano de 2014, e dez minutos abaixo do que tinha como objectivo. Fiquei a meio da tabela classificativa, o que para mim é bastante esquisito, pois estou habituado a ficar nos 10% do final, sempre.

Na chegada, amigas e amigos, as Ronhonhós, e lá fui ficando à espera de mais outras amigas e amigos que iam chegando, alguns dos quais que tinha “desviado” e convencido a participarem na prova, e cuja opinião foi, como não podia deixar de ser, positiva.

Os abastecimentos (um deles com bananas), os chuveiros com água cedida pelos habitantes da zona (pessoalmente não gosto, mas a maioria dos participantes parece gostar), a classificação praticamente em tempo real e sem erros (li que houve um engano ali na zona de colocação de um tapete intermédio mas nada de mais nem que prejudicasse as classificações), o diploma electrónico, a quantidade enorme de fotógrafos (amadores e profissionais) presentes, a paisagem e o percurso variado, com subidas e descidas vertiginosas, a melancia no final, os bolos secos e batatas fritas artesanais oferecidos, o valor da inscrição e toda a festa que gira à volta da prova, fazem sem dúvida da Meia Maratona de São João das Lampas uma prova diferente do habitual. Esta é, tal como os 10km de Tagarro (entre outras), uma prova de corrida, e não uma prova de running.

O único ponto negativo, a meu ver, foi ter-se descontinuado a tradição de dar a camisola somente no final, aquando do término da prova. Fernando, fica a dica, camisola com “finalizador” estampado, fica sempre bem e é em Português ;)

No final, regresso a casa para jantar, ainda indisposto mas de espírito cheio, com o objectivo primário cumprido, e objectivo secundário de improviso cumprido também. Para o ano regresso à festa da 40ª edição.

Lê também o que escrevi acerca da edição 37 e da edição 38.

Obrigado ao Astrodeck Studio (Pedro Lizardo) pela foto de cobertura.

One comment

  1. Boa!! Isso é que foi melhorar o tempo, também eu queria as 2h e consegui 2,05h. Fquei muitíssimo feliz nunca tinha feito esta…
    beijinho, eugénia

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